12/08/15

Charles Platiau / Reuters
Energia nuclear: "A solução para o problema do clima tem que passar pela eletricidade livre de carbono"



Limitar o aquecimento global até 2100 a 2 graus Celsius em relação aos níveis pré-industriais implicaria um aumento massivo da energia nuclear, afirmou o climatologista James Hansen.

O perito em mudanças climáticas disse que a energia nuclear – controversa por razões de segurança – deve se tornar um elemento central no sistema energético, lado a lado com as energias renováveis, para rapidamente reduzir os gases de efeito de estufa que levam ao aquecimento global.

“Tudo o que é preciso é olhar para as emissões da China, Índia e dos países em rápido desenvolvimento. Sua energia é quase na totalidade baseada no carvão. A solução para o problema do clima tem que passar pela eletricidade livre de carbono. E simplesmente isso não vai acontecer na China e na Índia sem a ajuda do nuclear”, declarou Hansen, que esteve ontem (3) na 21ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP21).

Atualmente, 80% da energia consumida no mundo tem por base combustíveis fósseis. A energia solar e eólica está em rápida expansão e atraindo investimentos, mas as renováveis ainda representam menos de 5% do setor energético, sem contar com a energia nuclear.

Ainda assim, de acordo com o especialista, mesmo que o objetivo das Nações Unidas seja atingido, e não se ultrapasse o limite de 2 graus Celsius no aquecimento global até 2100, provavelmente não será possível evitar catástrofes ambientais, sobretudo provocadas pelo aumento dos níveis dos oceanos.

“Se deixarmos as geleiras se tornarem instáveis, o mundo pode tornar-se ingovernável devido às consequências econômicas, que seriam enormes”, afirmou o climatologista, ao lembrar ainda que metade das grandes cidades mundiais está na linha costeira.

As geleiras da Groelândia e da Antártida Ocidental contêm água congelada em quantidade suficiente para elevar o nível do mar em 13 metros.

Nasa

O cientista trabalhou em estudo de clima na Nasa, a agência espacial americana, entre 1981 e 2013.

Ele se tornou ativista em prol de políticas que possam contrariar a ameaça climática e defende que sistemas como a compra de cotas de carbono pelas empresas “não funcionam” e já demonstraram “ser inadequados”.

Hansen defende ainda que esse sistema levará à manutenção da dependência dos combustíveis fósseis.

Os cientistas calculam que pelo menos 60% das reservas de petróleo, gás natural e carvão ainda a serem exploradas devem permanecer debaixo do solo para evitar o sobreaquecimento do planeta.

A COP21, que ocorre até ao dia 11, reúne em Paris representantes de 195 países que tentarão alcançar um acordo legalmente vinculante sobre redução de emissões de gases de efeito de estufa que permita limitar o aquecimento da temperatura média global.

Até agora, mais de 170 países já apresentaram suas contribuições para a redução de emissões, ainda insuficientes para alcançar a meta proposta.

Entre os assuntos pendentes estão a aceitação de um mecanismo de revisão periódica das contribuições nacionais e a existência de um só sistema, sem divisões entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, mas com flexibilidade no tratamento.

O tema e a responsabilização histórica dos países mais emissores estão entre os aspetos mais difíceis de resolver na COP21.

Para eles, o desafio da sobrevivência já começou

Thinckstock
Ao longo dos últimos 20 anos, o nível dos mares subiu uma média de 8 centímetros como resultado do aquecimento das águas e do derretimento das geleiras.

Até o final deste século, ele pode aumentar em um metro ou mais, segundo previsões do último Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), principal referência científica no assunto.

Essa alta reserva um futuro sombrio para muitas cidades costeiras e nações insulares no mundo e coloca mais de 40 milhões de pessoas em situação de risco.

A sentença severa já ameaça a existência de micronações, como as Maldivas, o país mais baixo e plano da Terra, e Kiribati, um pequeno país no Pacífico que estuda a ideia racidal de mudar toda a sua população para uma nova ilha.

Não por acaso os líderes destes pequenos Estados insulares representam algumas das vozes mais apaixonadas, firmes e exigentes nas discussões da COP 21, a conferência mais importante sobre clima da ONU, que acontece em Paris.

Afinal, se o mundo não chegar a um acordo capaz de frear o ritmo das mudanças climáticas, estes micropaíses serão os primeiros a sofrer as piores consequências por estarem na linha de frente do perigo. Para eles, o desafio da sobrevivência já começou. Veja nas imagens. 

Ilhas Maldivas

Thinckstock
Um micropaís no meio do Oceano Índico é uma vítima fácil para o aumento do nível do mar. No último século, as água já subiram 20 centímetros em algumas partes do país. De acordo com o levantamento da Ong Co+Life, uma elevação brusca poderia varrer do mapa esse paraíso de praias de areia branquinha, palmeiras e atóis de corais. Temendo o pior, o governo local já estuda comprar um novo território para o seu povo.

Ilhas Salomão, no Pacífico

Creative Commons/ Jenny Scott / Flickr
Pequeno país insular localizado a leste da Papua-Nova Guiné, no Oceano Pacífico, as pacatas Ilhas Salomão ganharam o noticiário mundial em fevereiro de 2013, após serem atingidas por um tsunami que matou cinco pessoas. Embora possa parecer pontual, a tragédia é a face mais radical de um drama vivido diariamente pela população local, formada por pouco de mais de 500 mil habitantes. Comunidades inteiras estão se realocando para evitar catástrofes a medida que a maré sobe. As ilhas com altitudes mais baixas são as mais atingidas.

Ilhas Marshall

Creative Commons/ Sarah Boyd / Flickr
Se nos dias de maré alta, a população das Ilhas Marshall já sofre com os danos da invasão da água salgada, uma alta brusca de quase um metro até o fim do século é uma sentença de morte para a região. O mar já cobriu parte do território e está erodindo a costa, enquanto secas e cheias castigam ainda mais o arquipélago, formado por 29 atóis e ilhas de corais entre a Austrália e o Havaí. 

Kiribati

Torsten Blackwood/AFP
Outro pequeno país insular que pode estar com os dias contados é Kiribati, um arquipélago formado por 32 atois no Oceano Pacífico. Com o aumento do nível do mar circundante, o presidente de Kiribati, Anote Tong, prevê que seu país provavelmente se tornará inabitável dentro de 30 a 60 anos. Ele está atrás de um novo lar para os 100 mil habitantes da região, que tem sofrido com a invasão de água salgada que prejudica a agricultura local. Durante discurso na COP 21, em Paris, Tong agradeceu publicamente a nação de Fiji por ter concordado em receber o seu povo se o pior acontecer.

Tuvalu

Getty Images
Na arena internacional, o pequeno conjunto de nove ilhas localizado no oceano pacífico, entre a Austrália e o Havaí, é um dos que mais trabalha para se fazer ouvir em meio aos interesses de grandes nações nas negociações climáticas. Com área de 26 km², o minúsculo Estado corre o risco de submergir diante do aumento do nível do mar. Nos últimos anos, as inundações constantes já vêm atrapalhando a produção de cultivos locais e a obtenção de água potável.

Seicheles

Esskay/ Wikipedia
Nação insular localizada no Oceano Índico, as Seicheles são constituídas por vários arquipélagos localizados a noroeste de Madagáscar. Com uma população de 87 mil habitantes, foi uma das primeiras nações a ligar o alarme global sobre o impacto das alterações climáticas e da consequente ameaça da elevação do mar para pequenos países insulares.

Delta do Mekong

Getty Images
Densamente povoado, a região do Delta do Mekong, uma das mais férteis do Vietnã, pode tornar-se vítima das mudanças climáticas. Um aumento do nível do mar inundaria rapidamente as fazendas de camarões, os vilarejos e os cultivos agrícolas, que garantem trabalho e sustento para os moradores locais. Segundo previsões mais pessimistas, até 2100, o mar engolirá 5% do território e 7% das terras agrícolas.

Delta do Ganges, Bangladesh

Wikimedia Commons
Bangladesh é um país com poucas elevações acima do nível do mar, com grandes rios em todo seu território situado ao sul da Ásia. A estimativa é que 120 milhões de pessoas que vivem no delta do Ganges estão ameaçadas pela elevação do nível do mar. Os desastres naturais como inundações, ciclones tropicais, tornados e marés em rios são normais em Bangladesh todos os anos.



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