Jardins que encantam os olhos mundo afora
Jardim Botânico Kirstenbosch, na Cidade do Cabo, na África do Sul
Por Rita de Sousa
Um jardim é como um santuário: um lugar planejado para cultivar e apreciar plantas e flores, conviver com uma fauna simpática que inclui joaninhas e borboletas, manter conversas agradáveis e desfrutar de uma porção da natureza.
Mário Quintana, com sua sabedoria e o jeito que era só dele, disse assim em seu poema Jardim interior:
Todos os jardins deviam ser fechados,
Com altos muros de um cinza muito pálido,
Onde uma fonte pudesse cantar sozinha entre o vermelho dos cravos.
O que mata um jardim não é mesmo
Alguma ausência nem o abandono…
O que mata um jardim é esse olhar vazio
De quem por eles passa indiferente.
Para Cecília Meireles o jardim era também algo particular, como mostrou em seu Leilão de jardim:
Quem me compra um jardim com flores?
Borboletas de muitas cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis nos ninhos?
Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da Primavera?
Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?
(Este é o meu leilão.)
Aquele jardim da foto que abre este post é o Botânico de Kirstenbosch, na Cidade do Cabo, na África do Sul, considerado por muitos como o mais bonito de toda a África. Ele foi criado em 1913, e foi o primeiro jardim botânico do mundo dedicado à flora nativa de um país.
Separamos aqui mais 11 jardins de cair o queixo:
Jardim Zen Templo de Ryoan, em Quioto, no Japão
Jardim Zen Templo de Ryoan, em Quioto
Este é um jardim para contemplação. Dentro de um templo zen-budista que é um dos monumentos históricos de Quioto, antiga capital imperial do Japão, e foi declarado Patrimônio Mundial da Unesco, fica o jardim de pedras, criado no final do século XV.
O jardim é famoso não por ser composto de cascalhos, mas sim por suas 15 pedras principais estarem dispostas de tal maneira que, não importa de onde você olhe, apenas 14 são visíveis.
Jardim Yu, em Xangai, na China
Jardim Yu, em Xangai
Jardim Yu (Jardim da Felicidade), também chamado de Yuyuan (Jardim da Paz), foi criado como um presente, em 1559, durante a Dinastia Ming: Pan Yunduan ofereceu este recanto ao seu pai, o ministro Pan En, como conforto na sua velhice.
Jardim de Versailles, em Paris, na França
Jardim de Versailles, em Paris, na França
O jardim do Castelo de Versailles começou a ser criado em 1632, no reinado de Luís XIII, e com o tempo e a sucessão de reis foi mudando nos desenhos e nos nomes. Mas por esses caminhos andaram iluministas e vieram à tona intrigas palacianas.
As fontes são um caso à parte: ainda usam o sistema hidráulico do Ancien Régime, da época de Luís XIV, e funcionam, contribuindo para tornar os jardins de Versalhes únicos.
Hoje, os jardins fazem parte do Patrimônio da Humanidade da Unesco, e são controlados pelo Ministério da Cultura francês, o que significa que são públicos, um dos locais mais visitados da França, recebendo mais de seis milhões de pessoas por ano.
Jardim da Especulação Cósmica, em Dumfries, na Escócia
Jardim da Especulação Cósmica, em Dumfries
O Jardim da Especulação Cósmica tem seus 30 hectares enfeitados com as esculturas criadas pelo arquiteto, paisagista e teórico Charles Jencks em sua casa, a Portrack House.
O jardim é inspirado pela ciência e pela matemática, com esculturas e paisagismo com temas como buracos negros e fractais. Neste jardim, as plantas em si não são abundantes, mas ali se proliferam fórmulas matemáticas e phenomenae científica em um ambiente que combina elegância e características naturais e simetria artificial e curvas. É, provavelmente, único entre os jardins.
O jardim é privado, mas abre para visitas um dia por ano, quando arrecada fundos para o Centro de Maggie, uma instituição de caridade para o tratamento do câncer chamado Maggie Keswick Jencks, a falecida esposa de grande arquiteto Charles Jencks.
Jardim Rikugien, em Tóquio, no Japão
Jardim Rikugien, em Tóquio, no Japão
O jardim Rikugien é composto de uma pequena lagoa, árvores e um monte, com um tradicional jardim japonês — uma atração turística por si só.
Foi construído entre 1695 e 1702 e é considerado um exemplo típico do período Edo. Em 1938, foi doado à cidade de Tóquio.
Jardim Mirabell, em Salzburgo, na Áustria
Jardim Mirabell, em Salzburgo, na Áustria
O Jardim Mirabell foi construído na Fortaleza Hohensalzburg, onde também fica a Catedral de Salzburgo. Os jardins originais foram remodelado de acordo com os planos de Johann Bernhard Fischer von Erlach sob o reinado do príncipe-arcebispo Johann Ernst Thun em 1689.
Apenas algumas décadas mais tarde, em 1730, o arquiteto Franz Anton Danreiter alterou novamente os desenhos e traçados, formando o que hoje é considerado um dos mais belos jardins barrocos da Europa.
Jardins Keukenhof, em Lisse, na Holanda
Jardins Keukenhof, em Lisse, na Holanda
Keukenhof já foi uma área de caça no século XV, e uma horta de ervas de Jacqueline, Condessa de Hainaut, e daí o seu nome, “jardim da cozinha”, em tradução livre, pois abastecia de ervas a cozinha do castelo. Após a morte da condessa, comerciantes ricos assumiram a área, em 1641.
No século 19, o Barão e a Baronesa Van Pallandt convidaram os arquitetos Jan David Zocher e seu filho Louis Paul Zocher para projetar os jardins ao redor do castelo, mas foi em 1949 que o prefeito de Lisse tomou a dianteira e criou ali uma exposição de flores onde os produtores de toda a Holanda pudessem apresentar seus híbridos – e ajudar a indústria de exportação do país.
Há mais de 50 anos Keukenhof ostenta o título de maior jardim de flores do mundo, com aproximadamente 7.000.000 (sete milhões) de bulbos de flores que são plantados anualmente no parque, que abrange uma área de 32 hectares.
Jardim Exbury, em Hampshire, na Inglaterra
Jardim Exbury, em Hampshire, na Inglaterra
O Jardim Exbury data de 1919, quando Lionel Nathan de Rothschild adquiriu a propriedade Exbury e desejou ali um jardim grandioso.
A infraestrutura inclui uma torre de água, três grandes lagoas revestidas de concreto e de 35 quilômetros de tubulação subterrânea. Na primavera os arbustos são todos floridos, e sua pequena floresta ostenta uma invejável coleção de rododendros, azaléias e camélias. É muitas vezes considerado o melhor jardim de seu tipo no Reino Unido.
Jardim de Claude Monet, em Giverny, na França
Jardim de Claude Monet, em Giverny, na França
Giverny é uma pequena aldeia que fica na “margem direita” do rio Sena, bem no encontro com o rio Epte , a 80 quilômetros de Paris.
Foi lá que o impressionista Claude Monet pintou alguns dos seus mais lindos quadros, em 1890, na casinha que comprou e criou os magníficos jardins que imaginou.
Seu jardim ainda está lá, com arcos de trepadeiras entrelaçadas em torno de arbustos coloridos, o jardim de água, formada por um afluente do Epte, com a ponte japonesa, a lagoa com o lírio d’água, as glicínias e as azaléias.
Monet viveu na casa com a sua famosa fachada em tijolo esmagado-de-rosa de 1883 até sua morte em 1926. Seu filho doou a propriedade para a Academia de Belas Artes em 1966. Hoje o jardim é um museu aberto para visitação pública.
Jardim de Boboli, em Florença, na Itália
Jardim de Boboli, em Florença, na Itália
O Jardim de Boboli abriga uma coleção de esculturas que datam dos séculos XVI até XVIII, com algumas antiguidades romanas.
Localizado na parte de trás do Palácio Pitti, a principal sede dos Medicis, grão-duques da Toscana em Florença, é um dos primeiros e mais formais jardins italianos do século XVI.
Com largas avenidas de cascalho, construções de pedra, muitas estátuas e fontes. Apresenta ainda um sem-número de detalhes, coordenando grutas, templos e outros elementos do período. A abertura do jardim, com uma ampla vista para a cidade, foi pouco convencional para a época.
Coluna do
Ricardo Setti
http://veja.abril.com.br